LUTO

LUTO

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Felizes para sempre


Dizem os entendidos que enamoramento é um movimento coletivo a dois, que nos leva a romper com outros laços, enfrentar obstáculos e criar um país amoroso. Eu, quando me coloco a divagar, nos braços da insônia, penso de maneira diferente. Nem sempre é um movimento a dois. Aliás, o enamoramento cria sua força na unidade. Os primeiros ensaios dos passos da valsa do relacionamento é quase sempre realizado por um elemento do pretenso casal ao ser tocado pela chama do desejo. Essa chama leva a pessoa a realizar o jogo da dança para atrair a atenção e depois provocar os mesmos sentimentos no outro. Aí sim, começa o dueto. O movimento coletivo a dois. Então começa-se o jogo da sedução. Primeiro o desejo irrefreável, sem perenidade, com a única intenção da proximidade, da satisfação dos seus impulsos

Algumas vezes, logo após esse sentimento vem a paixão. Ela desespera, cria a necessidade de ter o outro e ao mesmo tempo é acompanhada pelo medo se ela dará um amanhã amoroso. Atraída, a pessoa despenca sobre o objeto da paixão, inventando qualidades, ignorando defeitos e é tomada pelo sentimento de posse. Ela vem galvanizar, eletrizar com uma uma força incomparável, empurrando um ao encontro do outro, fazendo brotar a possibilidade do amor.

Em raras vezes depois vem o amor. Ele pensa, deseja a perenidade. Tenta enxergar o outro em sua realidade individual. Tem o rosto bem definido e sua principal característica é tornar o outro no único objeto do seu prazer. Tem desejo, tem paixão, mas já não são elementos preponderantes. Ele é reflexivo, pois socialmente vai levar ao acasalamento, à reprodução.

Na maioria das vezes, infelismente nem sempre, após o amor vem o afeto despertando o companheirismo, a cumplicidade, a tolerância e principalmente a realidade. É aceitar o outro como ele é. Compartilhar a intimidade de forma serena, onde sobraram lembranças gostosas do desejo e da paixão. É caminhar pelos caminhos já tão conhecidos, recordando as explosões de sentimentos que cada canto, cada curva e cada movimento já despertaram. Então o caminhar é suave, apreciado com sabedoria e doçura de quem é grato por ter experimentado tantos prazeres juntos. As preponderancias, as rugas que não existiam, passam ser não o motivo pela falta de desejo, mas a certeza que percorreram juntos um longo caminho, trazendo cada uma delas, uma recordação de paixão e desejo famintos que ali foram saciados. O toque na intimidade ainda esfria o ventre e arrepia a pele, pois ali foram registrados momentos de prazer e de entrega.

Essa trajetória só é possível se ambos conseguem substituir sem o sentimento de perda, as fantasias pela realidade e que o compromisso nascido do sentimento não representem " as amarras e obrigações que impedem o pleno desenvolvimento do eu". O compromisso significa o coroamento da vida e não a capitulação perante uma armadilha.

E assim, foram felizes para sempre.


Mel/jan/2007

Nenhum comentário: